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Este colunista que vos fala entrevistou por e-mail o jornalista Rubens Leme da Costa, responsável pela coluna Mofo, no site Whiplash, e vocês acompanham a seguir:

P - Você poderia falar um pouco de sua passagem pela Folha, e como é que foi parar na Bolívia? 
R - Eu comecei na Folha em 1994, como pesquisador de fotos do Banco de Dados durante a Copa do Mundo. Era contratado pela redação de esportes e meu salário era pago por eles. O editor já era Melchiades Filho. Após 30 dias de bons serviços, ganhei um prêmio e fiquei 10 dias na redação do jornal, enquanto Mauro Tagliaferri (hoje na TV Globo) saiu de licença. Voltei para o BD, fiquei mais seis meses e fui incorporado à redação onde fiquei por três anos, passando ainda pela Ilustrada.
O lance da Bolívia foi durante um torneio de xadrez, pela Copa Itaú de 1999, em São Paulo. Um colega meu (Jorge González) que é boliviano e vive no Brasil (ou vivia, não sei mais...) e que havia feito um frila no Lance!, durante o Mundial de 1998, ficou sabendo do torneio e como, nessa época, eu fazia um bico como assessor de imprensa da Federação Paulista de Xadrez, perguntou qual era o esquema e se podia ir até lá para gravar um boletim para a emissora do país dele. A idéia era entrevistar o campeão e vice (Gilberto Milos e Rafael Leitão, respectivamente) e algum jogador boliviano. Como o torneio se arrastou por muito tempo, logo após a entrevista com Milos e Leitão o cinegrafista precisou ir. Desesperado, Jorge pediu para que eu fosse seu camera-man. Só que eu nunca havia manejado uma, pois não fiz faculdade de jornalismo. Quase morri de cãibras segurando o monstrego por 15 minutos e sem consegui acertar o zoom. Até hoje não sei aquilo foi ao ar ou não, pois nunca mais encontrei o Jorge.

P - Como e quando surgiu a paixão pelo xadrez e pela música? 
R - O xadrez apareceu desde menino, ainda em Ribeirão Preto, durante as disputas entre Karpov e Korchnoi, no início da década de 80. A música veio um pouco antes, mas virou mania mesmo já no colegial. E realizei um dos meus sonhos, entrevistando Karpov, ao vivo, duas vezes, aqui no Brasil. Mas meus ídolos sempre foram Kasparov e Ivanchuck.

P - Como é ter uma coluna no Whiplash, que tem uma proposta mais voltada para o público de metal e hard rock? 
R - É diferente e curiosa, pois ela é a primeira coluna do site (comecei em 2000) e sou o colunista que mais envia matéria. Ofereci a idéia ao João Paulo Andrade, diretor do site, que topou na hora, pois queria ampliar o universo musical do site. Recebo uma média de 4 ou 5 mails por semana e o mais curioso é que a maioria são das colunas antigas que o pessoal sai caçando na net e acha. Sempre tive excelente acolhida e receptividade dos leitores e apenas minha coluna sobre o Cult é que me rendeu umas pauladas.

P - Você acha que a Internet democratizou a informação ao permitir que um número cada vez maior de pessoas tenham oportunidade de interagir... participar de alguma forma, seja montando um site ou simplesmente um blog? 
R - Em parte, pois as pessoas, apesar de possuírem um imenso universo de busca e pesquisa ficam mais acomodadas e esperando que com um simples toque abra uma página com todas as respostas. Cansei de receber emails pedindo que fizesse trabalhos de faculdade ou uma tese. Sobre blogs: eu tive o meu, que falava de terapia, pois sofri de depressão profunda e de música e de esportes, mas encerrei porque achei que o ciclo dele havia encerrado. E hoje, os poucos blogs que acesso estão cada vez mais burocratizados e engessados. Mas acho a Internet importantíssima e que ainda procura seu nicho na vida dos usuários.

P - Acha que os grandes músicos estão acabando mesmo? E as grandes músicas? 
R - Essa é uma discussão longa. Não temos mais um Hendrix, um Miles ou um Coltrane ou os Beatles. Mas eu acho que a música contemporânea, e o rock mais especificamente, ainda é muito jovem para ser já completamente analisada e dizer que "bom era o antigo". Eu prefiro mil vezes Dylan a Thom Yorke, mas quem sabe não apareça alguém realmente bom no futuro? Eu não descarto nada.

P - Se considera uma pessoa eclética, musicalmente falando? 
R - Sim porque minha formação é assim. Eu nasci no interior e em casa eu ouvia Elis, Chico e música clássica com as canções padrões de FM. Muitos preconceitos eu fui derrubando e confesso que ouvir "Bordeline" de Madonna me dá tanto prazer quanto "So What", de Miles Davis.

P - O que acha do cenário musical nacional e internacional? As bandas que estão sendo badaladas na mídia são realmente o que há de melhor atualmente? 
R - Acho que isso é a velha discussão eterna. Bom é o que toca na rádio ou o que não toca? Eu particularmente não ouço rádio há mais de 10 anos e não vejo MTV, por isso esse tipo de música não me interessa. E acho que as bandas de hoje são feitas com apenas um propósito: fazer beiço e ter seu clip veiculado na MTV. Devem ter boas bandas, mas obviamente há muita coisa excelente fora do mainstream.

P - Na Mofo você fala basicamente de coisas do passado, principalmente de 80 pra trás, coisas que você gosta e que possuem uma história em sua vida, você é um saudosista ou é somente a proposta da coluna? 
R - Eu falo daquilo que as pessoas não conhecem ou conhecem, mas não têm informação. Todos somos saudosistas. Eu falo apenas de quem me toca dentro, não importando o rótulo que dêem. Eu tenho meus leitores cativos. Podem ser poucos, mas são fiéis. O saudosismo deixo para que você mesmo defina.

P - Como vê essa cena musical de Nova Iorque, capitaneada pelos Strokes e White Stripes, e a britânica pelo Radiohead, Coldplay e Belle & Sebastian? 
R - Acho bandas médias. O Radiohead escorrega numa egolatria igual ao Nirvana. Eles podem fazer uma merda que a crítica falará bem por terem os colocado no Olimpo. Gosto dos três primeiros discos e só. Tenho todos do Belle porque como trabalhei em loja pegava a preço de banana, mas não me animo muito. Coldplay nos anos 80 seria banda de quinta divisão, assim como o Nirvana seria no auge do punk. Strokes e White Stripes? Nota 3 e olhe lá. São xerox do xerox.

P - Repetindo uma pergunta que você fez pro Andy Gill (Gang of Four), qual sua opinião sobre MP3? 
R - Acho ótimo por democratizar, mas não abaixo por falta de paciência e por ser fetichista por cd e discos. Eu posso até pedir alguém para baixar algo para mim (eu mesmo não faço isso) e se gostar, eu encomendo o disco e compro.

P - Já que falamos da entrevista com Andy Gill, como é que rolou aquela entrevista e, uma curiosidade, ele mandou os CD's autografados? E o lance do CD de Elis Regina que você deu/mandou pro Steve Wynn? 
R - O Andy nunca mandou. A entrevista rolou da mesma maneira com as outras: achei o site e mandei um email falando que era do Brasil, etc... O Steve foi assim e nos comunicamos por email com muita freqüência. Ele me deu cinco cds deles e mandei alguns para eles, entre eles Elis e Mutantes. O Andy Gill não mandou os cds, mas a Katrina, o Cosmic Rough Riders e até o Blly Bragg (que conversei meses com a assessoria, mas se esquivou do meu questionário porque achava amplo e grande) me mandaram. O Billy mandou dois cds para mim devidamente autografados junto com uma foto. Um dia ele vai virar coluna.

P - Você acha que a Revista Zero preenche uma lacuna deixada pela extinta Show Bizz (antiga Bizz)? O que acha da crítica musical brasileira atual? 
R - Eu tenho bronca da Zero pelo seguinte: uma das pessoas que a montou trabalhou comigo na Folha e ofereci várias matérias quando ela (a Zero) ainda não existia, de fato. Cheguei a conversar com ele (é o Luís Cesar Pimentel) quando ia com os outros sócios nas gráficas para montar o esqueleto dela e depois simplesmente, fez pouco de mim, sem responder emails ou telefonemas. E o mesmo ia em casa ouvir cds e pedir para gravar coisas, como aconteceu com um cd do Captain Beefheart. Sobre os críticos, eu não acho simplesmente nada. Trabalhei com alguns deles e sei qual o nível cultural deles e suas pretensões. E completando: eu sinto que eles não têm a preocupação em informar e apenas em criar moda para dizer "fui eu que falei primeiro de fulano". Do pouco que me falam e que li no passado, percebi que ao invés de usar o espaço que possuem para fazer um apanhado da banda e explicar o contexto, querem criar uma histeria em cima de algo novo e que os outros "pobres mortais não conhecem". Resumindo, são patéticos.

P - Qual o último álbum que te fez pirar quando você ouviu? 
R - Como desmontei minha coleção por problemas financeiros, hoje estou recomprando aos poucos e quando boto a mão em algo que tive e estava morrendo de saudades, chego até a chorar. Na semana passada recebi o terceiro e o quarto dos Byrds (Fifth Dimension e Younger than Yesterday). Eles é que estão me pirando no momento, novamente.

P - Se tivesse que escolher entre ser um músico famoso e um campeão de xadrez, qual escolheria? Por quê? 
R - Se eu tivesse talento para algumas das duas coisas, ficaria com esse dom. Como não tenho falo mal e porcamente dos dois.

P - Fique à vontade para você deixar suas considerações finais. 
R - Agradeço o convite inesperado. Não sou famoso, não faço barulho, não vomito regras ou verdades. Agradeço seus elogios e quem quiser me escrever, faça à vontade. Eu respondo absolutamente todos os e-mails, mesmo os menos elogiosos. Abraço e boa sorte para ti.