
Matthew Thomas Dillon, o cara por trás do Windmill, tem uma voz que sugere uma cruza entre Wayne Coyne (Flaming Lips) em início de carreira e Jonathan Donahue (Mercury Rev). Não por acaso sua banda tem sido comparada a ambas e também ao Arcade Fire. Não deixa de ser verdade que essa tríade possa ser encontrada na música deles num momento ou noutro, mas a dose mais forte fica por conta dos Rev's.
Longe das citadas referências, o Windmill não explora elementos psicodélicos, eletrônicos ou orquestrações épicas, tampouco preenche suas canções com inusitados instrumentos para montar um quebra-cabeças que resulte em intensas pop songs. Muito mais perto do que longe disso, Dillon, que parece gostar de cutucar almas melancólicas, compõe canções sufocantemente tristes ao piano e em seguida as recobre com cordas, samples, coros e toda uma gama de elementos usuais na música pop, conseguindo um resultado de digestão difícil à primeira audição para ouvidos apressados, emocionante se olhado mais de perto.
A sensação despertada no contato com a música do Windmill pode ser de êxtase ou de melancolia (na maior parte das canções) ou os dois juntos, mas nunca de apatia. Incômodo talvez com o timbre anasalado de Dillon, que declara ter influências diversas das comumente citadas e que inclui Michael Stipe, conforme declaração própria.
Introspectivo por largos instantes, “Puddle City” transpira uma dramaticidade pungente e arrasta o ouvinte numa maré de circunspecção típica de “Deserter’s Songs”, apesar do começo alto astral com a ótima “Tokyo Moon” sugerir que daremos um passeio pelos momentos mais ensolarados de “Soft Bulletin”, do Flaming Lips. As atmosferas se tornam mais densas quando a tensa “Boarding Lounges” vem à tona, texturizada por um arranjo de cordas dramático, prestes a explodir, mas sempre sendo cortado pelas pausas forçadas de Dillon. É como uma ameaça que não se concretiza, mas a gente torce para que aconteça. “Fluorescent Lights” tem estrutura semelhante (piano, cordas, samples de vozes), só que cumpre o que promete, explode no refrão, desce em seguida, explode de novo. É a mais viciante do álbum e também a mais longa.
Aos poucos vai ficando mais evidente a importância do piano na música do Windmill, desnecessário chegar ao fim para se concluir que este é mola mestra nas composições de Dillon, sendo mesmo seu ponto de partida. Mas não pense em Keane ou Coldplay, pois as semelhanças param na ênfase do instrumento, a música do Windmill segue caminhos diversos destes. Há uma predileção por arranjos dilacerantes de cordas, alternância em momentos calmos de piano e voz e momentos explosivos, baterias poderosas (quando aparecem), vozes dobradas e coros quase épicos.
Na segunda parte os “olhares” devem se concentrar na poderosa “Asthmatic”, na arcadefireana “Plasticine Plugs” e na grandiosa “Fit”, algumas das melhores faixas do álbum. É nessa segunda parte que a falta de maior diversidade nos arranjos se acentua e começa a incômoda sensação de que poderia ter sido melhor trabalhado em algumas canções, acrescentado tons mais diversos, burilado as composições, o que poderia ser conseguido na produção, a qual ficou a cargo do próprio Dillon e Tom Knott (The Earlies).
Com um álbum acima da média, o Windmill perdeu a oportunidade de dourar seu debut com aquela cobertura mágica e misteriosa que diferencia os grandes álbuns, deixando-o a meio caminho do indispensável, apesar de surpreendente. Mas não se assustem se entrarem na briga pelo cetro de revelação do ano ao lado do Shout Out Louds ou Besnard Lakes.
(Melodic, 2007)
NOTA: 7,8