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PLANTS AND ANIMALS - Parc Avenue

Apesar da capa ter metade da população canadense (uma brincadeira de minha parte, claro), o grupo conta com apenas três músicos (exatamente os 3 que estão em volta do cachorro). Sem seguir necessariamente a ordem que ocupam na foto, os componentes são: Warren Spicer (guitarra e voz), Matthew Woodley (bateria, percussões e voz) e Nicolas Basque (guitarra, baixo e voz).

E por vir do Canadá, outras sonoridades conhecidas nossas podem ser associadas ao som do trio. Um pouco de Arcade Fire, de Stars, de The Dears e do combo Broken Social Scene. Adicione ainda semelhanças com Band Of Horses, Iron And Wine e Shearwater. Bons pré-requisitos. Um disco difícil de rotular, uma vez que podem ser percebidos ecos do alt-country, pop sessentista psicodélico, progressivo dos 70, indie-pop atual, jazz e folk. Na melhor das palavras, mais uma banda a esfacelar seu som e dele tecer uma colcha de retalhos bem elaborada e de não tão fácil digestão assim.

Um disco longo (56 minutos), que você precisa assimilar lentamente, em cada audição diária. Detalhes escondidos. Descobertas de um som que tenta superar um quebra-cabeça de 5000 peças que você monta em cada momento de lazer de sua vida. Se por um lado temos a facilidade pop-rock pontuada por belos pianos e de lá-lá-lá’s de ‘Bye Bye Bye’ e o pop sofisticado carregado de nuances e candidata à música do ano, ‘Good Friend’; por outro há sonoridades intrincadas e épicas no melhor estilo rock progressivo dos anos 70, como em ‘Faerie Dance’. Esta última canção citada, por exemplo, começa lenta acompanhada de uma voz feminina suave, logo em seguida, se apropria de um turbilhão de cordas e pianos insanos, e nos instantes finais ganha uma batida mais incorporada e coro de vozes, formando assim uma espécie de suíte em 7 minutos.

Com assovios em seu começo, a acelerada ‘Feedback In The Field’ mostra um lado mais post-punk sem perder o toque alt-country de um Wilco (entendam, rapidamente exemplificando). A suave, pacífica e acústica ‘A L’orée Des Bois’ é a que fica mais próxima do folk perfeito que tem infestado – para nosso deleite - a internet. E é aquela música que pode te fazer perder a ojeriza pelo estilo. No final da canção, seria uma voz infantil aquela? Ouçam e me digam. Ficou genial. ‘New Kind Of Love’ consegue aliar um vórtice atordoante e descarrilado de instrumentos com vozes à la Polyphonic Spree (acreditem, a mistura ficou perfeita). A pequena ‘Early In The Morning’ nos carrega para os anos 60 e nos remete a algo da escola dos Byrds.

‘Mercy’ ganha tons jazzísticos. Guitarras suingadas e sopros potentes. Na metade da composição, aparecem gritos femininos como se estivéssemos ouvindo algo das estripulias de um The Go!Team. No final, guitarras ensandecidas. Mais inusitado que isso, impossível. Para quem achava que tudo ficaria como na música de abertura, o estranhamento será inevitável e tudo em prol da falta de originalidade musical que muitos grupos ousam empregar incansavelmente. Para embalar tarde chuvosas, fique com a fusão bem combinada de violinos, bateria marcial e cordas que te acalma em ‘Sea Shanty’. Ou fique com o clima mais sombrio e intimista de ‘Keep It Real’. Se você chegou até aqui na audição do disco, ou seja, não desligou o aparelho, ainda tem tempo de ouvir guitarras em profusão na instrumental ‘Guru’. A meu ver, não faria falta para o fechamento do disco. Até foge da proposta dele. Um momento experimental da banda que vem provar claramente o quão virtuosos são seus 3 componentes. Mesmo assim, vale a pena ouvir a canção por trazer dedilhados de guitarra que um Vini Reilly sabe fazer, adicionando ainda outros mestres do instrumento: Eric Clapton, Carlos Santana (pelo ritmo percussivo da música em questão).

Quem chegou até ao final de meu texto, vai ficar pasmo com as referências musicais: do canadense Arcade Fire ao mexicano Santana. Pois é. Obras talentosas te fazem retratar uma gama de outras possibilidades que a influenciaram. Como no caso do Plants And Animals. E mais uma vez o Canadá e seu cenário musical surpreendem.

Banda: Plants And Animals
Disco: Parc Avenue
Ano: 2008
Gravadora: Secret City Records

Nota: 8,2